Foi no ano de 1720 quando o arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles, decidiu comprar umas casas situadas junto da antiga capela de São Gonçalo para ali fundar um Recolhimento – ou Conservatório como também, então, se dizia – dedicado à santa pecadora Maria Madalena para recolher as mulheres convertidas a Deus por livre vontade, arrependidas do coração e dos seus erros.
O Recolhimento de Santa Maria Madalena, ou das Convertidas, é um edifício sólido, extremamente pesado e duro. E não podia ser de outra forma.
É um edifício que tinha uma dupla razão para ser construído; mas com sentidos muito diferentes.
Uma das funções era a de corrigir os erros das fraquezas humanas, a segunda razão era mais prosaica mas não menos importante, que era a de marcar o cunhal da nova rua que ligaria o florescente campo de Sant’ana, então em vias de se tornar o local mais importante da cidade, com a igreja de S. Vicente, onde estava sediada a terceira mais rica confraria de Braga. Este projecto foi obviamente influenciado pela posição dominante da Capela de Guadalupe.
Entrar neste Recolhimento equivale a uma verdadeira viagem até um tempo passado que só entrevemos em livros e filmes.
O átrio é muito frio, de pedra húmida, a desaconselhar quem procura a saída. Para comunicar com o corredor estava lá a roda. A porta só se abria por ordem e mando da governanta, que era escolhida a dedo pelo arcebispo e que tinha direito a melhor ração que as outras. E para chamar ainda lá está pendurada a sineta.
Passada a porta encontramos outro átrio não muito acolhedor mas já com algum calor humano. Era ali que deveria ter assento a porteira que também era escolhida a dedo pelo arcebispo e também tinha direito a melhorada ração.
A escada é estreita e íngreme. São dois andares de corredores estreitos, de soalho de pinho carcomido, de paredes caiadas de estratigrafias brancas.
Ao longo de um estreito corredor estão sucessivas celas, pequeninas, outrora apenas com um catre, uma mala e um crucifixo na parede alva.
O convívio fazia-se, na altura, nos coros alto e baixo, ou no mirante de pequenas janelas e fortes e apertadas grades, a que só se acedia emdeterminadas horas.
A zona de vivência das recolhidas é absolutamente notável pelo seu extraordinário estado de conservação.
A capela é notável pelo seu impecável estado de conservação e pela sua profunda unidade. A excepção do retábulo que deve ter sido colocado nos finais do séc. passado, tudo na capela é um bom exemplo do que Braga gostava em 1722.
O retábulo-mor, de estilo nacional, tem um aspecto monumental que lhe é dado pelo volume da sua talha e pela pequenez do espaço em que se insere.
Conserva ainda o dourado original. As imagens são soberbas, sobretudo a de Santa Maria Madalena, de uma factura cuidada e de uma elegância perfeita.
O púlpito é bonito embora não corresponda ao conjunto da capela; estilisticamente é pouco anacrónico pois é ainda do estilo nacional.
O tecto é um exemplo de como foram outros das igrejas e capelas de Braga no séc. XVIII.
Não foi um bom artista que trabalhou nesta capela das Recolhidas, não foi um pintor erudito. Talvez tenham sido dois, tais são as diferenças que se sentem entre os tectos da capela-mor e da nave.
Não são uma obra recomendável para quem tenha os sentidos muito apurados, mas valem pela sua excelente conservação, pelo testemunho que representam de um património quase inteiramente perdido.
Este edifício, presentemente, encontra-se fechado e ainda não lhe deram rumo certo. Esperemos que quando o fizerem não seja tarde de mais.